no tempo em que os animais falavam
No tempo em que os animais falavam e se davam em casamento, havia uma burra, que perdera o pai cedo. Ficara muito mimada por ter sido criada só pela mãe. Esta, enquanto lhe mostrava os pastos verdejantes, contava-lhe histórias de tempos antigos em que rapazes eram amamentados por lobas e conseguiam fundar cidades e impérios ou em que toiros acasalavam com mulheres e se perdiam em intricados labirintos. A burra ouvia todas estas histórias e, na sua limitada imaginação, imaginou-se casando com uma águia. Quando foi à borda do lago beber, com a mãe, transmitiu-lhe a ideia de casar com a águia e ter um filho voador. A mãe, com a calma ternura materna disse-lhe que esse casamento já havia ocorrido e que o animal que havia nascido era imortal e único, por isso que se deixasse de ideias e fosse pastar. Mas a burra não desistiu. Imaginou-se com um corpo de sílfide e cabeça de burra (o contrário por razões entendíveis não lhe ocorreu). Uma vez mais a mãe, carinhosamente, lhe disse que já havia uma mistura dessas, de cabeça de elefante com corpo humano e só ocorrera porque o pai da criatura a decapitara. Então, a burra, vendo que a mãe não lhe dava saída para os seus sonhos seduziu um gato e fugiu com ele. Viveram felizes exactamente duas horas, logo que assumiram o compromisso nupcial a burra saltou, feliz, para o colo do seu amor…e ele esmagado pela força desse amor não resistiu. A burra cumpriu um luto pesado, de dois dias, e andava a passear, pesarosa, pelo prado quando viu um belo cão. Dirigiu-se-lhe e perguntou: queres casar com a burrinha, que é cinzenta e tontinha? E ou cão…